Se tudo o que há é mentira

Se tudo o que há é mentira, É mentira tudo o que há, De nada nada se tira, A nada nada se dá. Se tanto faz que eu suponha Uma coisa ou não com fé, Suponho-a se ela é risonha, Se não é, suponho que é. Que o grande jeito da vida É pôr a vida com jeito. Fana a rosa não colhida Como a rosa posta ao peito. Mais vale é o mais valer, Que o resto ortigas o cobrem E só se cumpra o dever Para que as palavras sobrem.

Si todo lo que hay es mentira, Es mentira todo lo que hay, De nada se toma, A nada se da. Si tanto da que yo suponga Una cosa o no con fe, La supongo si es risueña, Si no lo es, supongo que lo es. Que la gracia de la vida Es pasar por la vida con gracia. Se marchita la rosa no cogida Como la rosa puesta en el pecho. Más vale el más valer, Que el resto ortigas lo cubren Y sólo se cumpla el deber Para que las palabras sobren.

Fernando Pessoa (1930)